Outro dia ouvi pessoas falando sobre como
esperam que sua morte seja cuidada. Algumas diziam que a morte deve ser uma
celebração: "não quero ver ninguém chorando, quero uma festa"; outras
diziam que preferiam um enterro rápido, não desejavam ser veladas por muito
tempo, para não prolongar o sofrimento dos que ficaram. Bem, a esse respeito,
só uma coisa é certa, ninguém pode saber como sua morte será tratada; salvo
aquelas pessoas muito organizadas que deixarão tudo encaminhado para que seu
último desejo seja cumprido; mas mesmo assim, se as circunstâncias da morte
fugirem ao natural e ao esperado, é certo que as vontades póstumas serão
ignoradas.
Fonte da imagem:http://www.csaolucas.com.br/noticia_detalhe.php?id=653 |
Eu já pensei na minha morte, concordo com
aquelas pessoas que afirmavam não querer um velório longo: também acho que
é prolongar o sofrimento. Mas no dia em que ouvi as colocações daquelas
pessoas, parei e pensei: a cerimônia fúnebre não deve ser sobre quem morre, mas
sim sobre os que ficaram. Eles devem decidir sobre a melhor maneira de
homenagear aquele ente que se foi.
Se você inspirou alegria aos seus e espera
que seu memorial seja celebrado como uma festa, pouco importa, já que aqueles
que cuidarão de suas exéquias poderão pensar que uma homenagem póstuma
tradicional, formal e religiosa seja a melhor forma de respeitar o que você foi
em vida. O mesmo é válido para o pensamento oposto: às vezes você foi alguém
que pouco da vida aproveitou e por isso seus chegados optarão por fazer uma
festa, que você nunca pôde viver, mas que eles gostariam de te dar de presente.
Quanto ao choro, é bobagem pedir que as
pessoas evitem-no, porque o choro na morte é algo cultural. Se morrer, tem de
chorar por aquele que vai; seja por saudade, por remorso, culpa, seja por
tristeza, felicidade, pena, ou, por chorar.... como o contágio de bocejar,
nos velórios se chora por ver os outros chorando também.
Esses pensamentos são válidos, partindo do
princípio de que haverá quem organize, celebre e presencie sua morte, porque se
você for uma pessoa só, tudo isso será suprimido com uma vaga solução mecânica
da funerária responsável, houver uma.
Por tudo isso, parei de querer ter
"memórias póstumas". Que decidam os meus sobre o que eles precisam
fazer por mim nos momentos finais de minha estada sobre a terra. Porque o
que vale é pensar na vida, pensar em não ser um morto-vivo; pois só podemos
decidir sobre como queremos viver!
G.C.A., 15 de junho de 2015
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