quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Tratamento de índio

 Hoje vi um casal de índios almoçando num restaurante. O restaurante é caseiro, particularmente, adoro a comida de lá, embora o peixe de hoje estivesse mal temperado. Mas o que importa é que dois índios estavam lá almoçando.
A cena me tocou. Me tocou porque me incomoda ver outras cenas com índios e já reclamei disso para alguns. 
Em Angra como em Paraty, os índigenas vêm diariamente às ruas vender seu artesanato. As peças são lindas e faça chuva - e por aqui faz muita - ou faça sol, lá estão eles, majoritariamente elas, muitas vezes com uma cria agarrada ao peito, vendendo sua arte. Isso é bonito: vê-los, observá-los trabalhando e saber que eles são parte dessa terra, é mesmo lindo.
O que me causa incômodo é justamente o momento da refeição. No horário do almoço é comum ver indiozinhos e indiazinhas indo às portas de restaurante buscar sua quentinha, parece ser doação. Eles recebem sua comida na porta do estabelecimento e saem para comer sentados no chão. Geralmente é o papelão usado como base para pôr a quentinha que lhes serve de talher. Essa cena é muito triste. Parece que por aqui os índigenas são população de rua.
Uma vez eu disse "eles não são mendigos, são artesãos". Porque é forte demais vê-los tratados como sujeito indesejado pelas portas das comedorias a fora. 
   Fonte da Imagem: https://www.flickr.com/photos/francinetefroes
E é por isso que ver o casal de índios sentados à mesa, comendo sem pressa uma comida que claramente estava sendo servida a todos os outros clientes me tocou. 
Ao contrário do que nosso subconsciente aprendeu a pensar, índios são pessoas, não animais da terra. E tratá-los com a civilidade que aprendemos dos europeus não significa aculturá-los. 
A campanha pelo dia da consciência negra do governo diz que o lugar do negro é onde ele quiser, como negra, sei das dores da esclusão e da necessidade de se tratar da questão. Mas não podemos nos esquecer dos povos indígenas; aqueles que costumamos chamar de os donos da terra. 
Cuidar para que as conquistas sociais já alcançadas no país sejam também
consquistas para os povos indígenas é nosso dever de brasileiro. E isso pode começar com um ato de gentileza que é servi-los digninamente

Angra dos Reis, 18 de novembro de 2015.

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