terça-feira, 21 de julho de 2015

Sobre a vida dos outros

Fonte da imagem:http://www.recantodasletras.com.br
/trovas/5205045
Olhando a vida dos outros, encontro soluções para tudo. Sei como reagir a cada situação adversa que encontrar no meu caminho, porque tenho uma tábua de exemplos e experiências dos outros para serem aplicados à minha realidade.

Ironias a parte, não se pode negar que é este o papel da literatura: contar uma história, através da qual seus leitores possam refletir sobre aquela realidade. A vida dos outros, embora descontextualizada para nós, acaba sendo um livro a ser refletido. Digo descontextualizado porque, por mais que entendamos e conheçamos a vida do outro, o contexto de vida dele é sempre mais subjetivo que objetivo; não é como os romances, em que os autores podem delimitar tempo, espaço e realidade histórico-social.

Bem, faço uso dessa contextualização toda para falar da vida dos outros que eu gosto de observar. Eu tento ser, por personalidade e por disciplina, diferente das pessoas que observo; não diferente das qualidades, mas diferente dos defeitos: carências, covardias, resignações...
Eu tenho as minhas – carências, covardias e resignações, mas travo uma batalha dia após dia, para não adquirir aquelas que vejo claramente nos outros.

Uma dessas muitas batalhas é travada para garantir que as pessoas me tratem, a mim – na minha frente ao menos – com respeito. É o mínimo que se pode esperar dos outros. Obviamente, que vocês pensarão: ‘é dando que se recebe’, sim! Isso é uma verdade! Mas nem sempre. Às vezes é com um pouquinho de ignorância que se conquista um pouco de respeito.
Comigo as pessoas devem ser, ao menos, gentis, cordiais, e se não forem aprenderão a ser. Ou relações serão cortadas: esse também é um jeito de conquistar respeito. É preciso ter ciência, convicção, de que respeito é um direito-dever. E não um privilégio de ricos, autoridades e homens. Esse último então...

Ah, meninas! Não deixem que os homens lhes ofereçam menos que respeito. É um direito-dever deles também. Eles merecem ter ,não porque são homens, mas porque são gente; mas  têm a obrigação de dar a quem quer que seja, e a nós, mulheres também. Os gurus do relacionamento dizem que numa relação a dois é preciso ceder um pouco, mas grande parte dessa cessão vem da mulher- é o que se verifica por aí. Isso é falta de respeito, uma relação a dois – seja amorosa ou não – deve ser baseada na igualdade, e se um cede demais, para o bem do outro, esse mesmo um está sendo desrespeitado.

Então, meninas do meu coração, não deixem que eles sejam desrespeitosos: exijam que eles apóiem seus sonhos, respeitem suas relações outras, respeitem sua inteligência e seu corpo. Nada corta mais o meu coração que ver amigas e conhecidas se diminuindo só para que seus homens se sintam mais confortáveis. Alguns dirão: ‘é uma escolha delas’. Mas que escolha é essa, em que eu não posso ser eu, não posso sonhar com o que quero ser, só porque o outro precisa se sentir melhor em relação a mim? Eu não acredito num mundo assim, se ele fosse bom, muitas mulheres não teriam se revoltado desde sempre.

E o que isso tem a ver com a vida dos outros... Bem, eu vi isso dias atrás, e vejo isso vez por outra acontecer com pessoas próximas, não me julguem: pois já fiz a minha parte, já conversei. Mas como dito, as razões pelas quais as pessoas escolhem permanecer nisso é sempre mais subjetiva que o contexto pode mostrar.

Angra dos Reis, 21 de julho de 2015.


sexta-feira, 10 de julho de 2015

Festa da Padroeira

Fonte da imagem: facebook/santaisabelreformada
É chegada a hora de arrumar a casa, encontrar velhos amigos e reviver várias histórias. É tempo de festa, festa de Santa Isabel.

Todos os anos isabelenses e amantes do distrito esperam ansiosamente pelo mês de julho, que com ele traz a festa da padroeira. É um momento de celebração em família. Não só da família em que se nasce, mas também da família que reside, ou residiu, num lar que tem por nome Santa Isabel do Rio Preto.

As meninas vestem suas melhores roupas (de frio), os meninos preparam suas melhores aventuras, e os adultos... Ah os adultos! Estes redobram forças para lembrar suas melhores histórias de passado, para que possam compartilhar e rememorar com os conterrâneos dispersos em cidades da região e de todo o Brasil.

A festa da Padroeira, embora em tempo de inverno, traz consigo o calor do aconchego que se recebe ao chegar a casa, do abraço do amigo distante, dos novos causos que a vida traz e do doce calor dos reencontros.

Não é exagero pensar que um isabelense abre mão de qualquer programa por um final de semana da festa, pois para ele o mundo encontra-se ali, naquele belo lugarejo onde o passado está guardado e pleno de boas lembranças. Para muitos estrangeiros, Santa Isabel é só mais uma “cidadezinha qualquer” – de Drummond. Mas para um isabelense, Santa Isabel é a capital do mundo, lugar em que tudo se pode encontrar: preciosos ovos caipiras, doces delícias das avós e, claro, valiosas e inesquecíveis amizades de infância.

Então, se você estrangeiro não compreende a inquietação que toma o coração de seu colega isabelense nesses tempos de julho, tome a estrada e siga para o distrito de Santa Isabel do Rio Preto, no dia 13 de julho. Não se acanhe, será bem-vindo, pois só assim será capaz de experimentar e compreender a magia da Festa da Padroeira.

Texto de 2013

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Aos menores o menor: espaço, direito, respeito...

A discussão a respeito da redução da maioridade penal tem tomado conta dos assuntos de cafézinho por aí, seja por meio de discussão proposta pelos meios de comunicação, seja através de conversas 'espontâneas' que surgem entre pessoas que se reunem.  O fato é que, ontem em sessão plenária na Câmara Federal, o texto que pretendia reduzir a maioridade para crimes hediondos não passou. Não sendo aquele o texto original, a discussão continuará em torno do assunto, já que agora a proposta é reduzir a maioridade para todos os crimes. 

Mas em meio a toda essa discussão, o que mais me chama a atenção nisso tudo é a capacidade que as pessoas têm tido de olhar o assunto como um problema induvidual e não social, as pessoas dizem que se a maioridade não for reduzida o sentimento de impunidade vai continuar... Mas meu Deus! A impunidade atinge muito mais aos maiores que os menores, e mais, a punidade atinge muito mais às camadas mais baixas da sociedade que as altas. 

Ninguém quer enxergar que só vai para a cadeia e nela fica, o coitado que não tem quem o defenda exclusivamente num tribunal. Aquele que pode pagar por um bom advogado continuará usando das brechas da lei para se manter longe das grades. Não será diferente para o filho dessa mesma gente que pode se defender. 

O menor infrator que comete grandes crimes é sim privado de sua liberdade e jogado em presídios, porque é isso que essas instituições de ressocialização são: ora mais humanas, ora menos, mas são prisão. E não deve haver nada mais desolador para um jovem cheio de energia, desejos e sonhos, que estar privado de sua liberdade. Sim, eles têm sonhos, embora saibam que a sociedade espera e trabalha para que seus sonhos se frustrem e que eles sejam só aquilo que a maioria dessa gente reacionária espera que eles sejam: menores infratores. 

O menor infrator é produto criado por essa sociedade de consumo, em que o pai não consegue mais explicar ao filho que é impossível  ganhar salário mínimo e equipar a casa e as pessoas da casa com todos os eletrônicos que há aí para serem adquiridos por todos. É fácil dizer que é falta de responsabilidade dos pais, que eles têm de educar seus filhos de acordo com sua realidade, mas as pessoas se esquecem de que vivemos numa nova época, na qual os estímulos pelo prazer imadiato são incessantes; criamos chocólatras, workaholics, shopaholics...  todos esses 'aholics' são desenvolvidos para manter viva a sociedade de consumo.

Fonte da Imagem: http://desacato.info/destaques/
estudantes-fazem-blitz-no-congresso-
contra-a-reducao-da-maioridade-penal/
 Há 15 anos atrás eu ainda compreendia o que era falta de dinheiro, porque fui ensinada a entender minha realidade, mas sobretudo porque não houve naquela época internet e televisão forte o bastante para contradizer a educação que recebi.

Dizer que o Estado erra por não prover uma educação suficientemente boa para que esses jovens sem perspectivas escolham o caminho mais digno é ser redundante, sim o Estado falha, mas falha também o pai que desobedece a orientação da professora de pré, que num bilhetinho solicita aos responsáveis para que não mandem seus filhos à escola com brinquedos fora do dia, muito menos com brinquedos caros. Essa gente que pode se mostrar para aqueles que têm menos, são os primeiros a condenar os menores pela cobiça, mas não fazem sua mea culpa pela vaidade. 

As pessoas se esquecem de que o mundo, da maneira que aí está, fora criado e que , ao contrário do que muitos pensam, não fora sempre assim. Somos gado, levados a seguir o caminho traçado pela cerca, e ensinamos a nossos menores que assim deve ser. Portanto, não  se deveria querer que o menor do outro, o menor pobre e sem condições sólidas para transformar sua história, deva ser punido por querer ter como os outros menores que se expoem por aí. 

É fácil dizer que cometer um crime é uma escolha, mas não há escolha quando as condições são únicas. É fácil esquecer a depressão que agride às pessoas justamente por não poderem ter o que lhes é oferecido o tempo todo, por não poder ser o que é lhes cobrado a todo tempo... Porque a depressão é uma doença de ricos incompreendidos; o pobre que trabalha, que fica desempregado e que recebe os mesmos estímulos que o rico incompreendido não tem direito de se deprimir, de se revoltar e de querer ter o que aparentemente todos têm... 

O menor pobre não tem direito... porque as leis que punem e impunem são sempre aplicadas às mesmas pessoas.