quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Alienação de bens

De maneira defensiva ou talvez burra, tenho me mantido alheia ao que está havendo no país. Obviamente que como professora não há como me alienar de vez: não seria justo com meus alunos e além disso, trabalho  num órgão político e, portanto, não há como manter fechados olhos, boca e ouvidos.
Dentro do pouco que tenho ouvido e acompanhado, sei que o golpe anda a passos largos nesse país, e não tem intenção de dar  uma 'paradinha'. 
Pois bem, ontem cheguei à sala de aula e me encontrei com uma nova turma. Uma das alunas queria conversar e começou a tecer comentários raivosos de cunho político. Primeiro me testou tentando saber se Presidenta existe de fato ou 'foi invenção da Dilma (sic)' - é foda ser professor de Língua Portuguesa nessas horas; depois criticou o ex-presidente Lula (exclusivamente) com vários xingamentos e sempre com uma opinião muito raivosa.
Não é meu papel interferir na opinião que meus alunos adultos já têm, mas é minha obrigação orientá-los quanto a determinadas construções muito direcionadas que têm contribuído para a efetivação do golpe.
Numa das questões que levantei, falei aos alunos sobre a permanência de determinadas famílias no poder há anos, e ,relembrando uma pichação que vi nas redes sociais, chamei sua atenção para o fato de que os legisladores que aí estão, não fazem senão defender seus próprios interesses. E para isso eles tiveram o aval do voto de muita gente. 
Nosso congresso tem sido um Country Club, em que só um grupo muito seleto tem acesso a determinadas instalações e privilégios; para tanto eles usurpam de algo que não lhes é particular, que eles não adquiriram com grande esforço e trabalho árduo: esses "playboys" do governo bancam seus interesses com dinheiro público. E sendo o mais óbvia que posso, essa festinha vai além das regalias que um legislador tem ( altos salários, bolsa tudo que é possível e blá, blá blá), tais vantagens se dão por meio de tráfico de influência e muita, mas muita mesmo, compra de favores (não é troca, é mesmo um mercado livre).
Fonte da imagem: http://dinheirobarato.com/hipoteca/
Os congresso nacional, junto  com o executivo que está totalmente alinhado com seus interesses, tem tomado de nós brasileiros tudo que nos é caro e essencial. Tiram-nos o poder de compra, os nossos empregos, o nosso acesso a serviços públicos com um mínimo de deferência - porque qualidade não é mais a palavra para esses tempos - e nós seguimos nos sentindo endividados. 
Não foi por acaso que as nossas forças foram convocadas a reagir contra o governo que estava aí, sem governar, governando mal etc.. Isso aconteceu para que hoje houvesse a garantia de que ficaríamos inertes diante de tantos desmandos que só interferem na vida dos fracos, já que nos sentimos cansados de lutar por causas erradas. 
Tudo o que é da população brasileira, por direito e por causa do cumprimento dos nosso deveres com o Estado, nos tem sido arrancado e e transformado em dinheiro. Cada escola sucateada é dinheiro investido nas empresas dos oligarcas tupiniquins, cada projeto de otimização da saúde, dos Correios, da Petrobrás, é dinheiro entrando na conta de um grupo exclusivíssimo de brasileiros - sem ignorar os interesses estrangeiros - ; e enquanto isso nós, reles trabalhadores, ficamos cada vez mais sufocados e prostrados diante de uma vida que só piora. 
É preciso inverter  essa corrente de pensamento que nos faz acreditar que estamos em débito com o país; a situação atual nos mostra o contrário, quem deve e teme são os nossos deputados e senadores. 

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Você viu?

Há um tempo atrás, quando a Rússia (re)tomou a Criméia, vi num programa uma jovem local falando do que a população estava experimentando. De forma bastante equilibrada a moça expôs sua visão do momento e uma de suas colocações me chamou a atenção: "meus pais passam dia e noite em frente à TV, onde a todo momento há notícias e informações falando da Rússia, do Putin... Eles parecem zumbis, ficam hipnotizados com tantas informações..." 

Bem, não é novidade  pra ninguém as táticas de persuasão da mídia e também não é novidade que a TV ainda é o veículo de informação cujo acesso abrange a maior da população. O que me incomoda nisso tudo é que estamos vivendo no Brasil algo semelhante ao relatado pela jovem da Criméia e estamos fazendo de nosso país um 'The Walking Dead' tupiniquim.

Em todas as rodas de conversa ouve-se um 'você viu'. Você viu o Lula, a Dilma, o Cabral? Você viu no senado, no governo, no Estado? Você viu nas favelas, no Espírito Santo, na Síria"?... 

A todo tempo notícias apocalípticas caem sobre nossas cabeças como bombas de conhecimento e antídotos contra a alienação. E as pessoas só absorvem, se alimentam, têm sede desse estado contínuo de inanição. 

É obvio que nós não devemos ficar à parte do que está acontecendo no mundo, mas seria bom e saudável que nós nos permitíssemos nos alienar dessa zona de guerra implantada na TV. 
Não há mais discussões sobre filme, novelas, comida que não tendam  para o partidarismo... Sempre e a todo momento as pessoas estão fortemente armadas com seus argumentos e suas caras impressionadas. 

Grande parte dos expectadores que reproduzem para as relações sociais o estado de calamidade transmitido pela TV é composta por pessoas que têm acesso a outros meios de informação e entretenimento, mas o processo de lavagem cerebral tem sido tão bem feito, que estas pessoas, que podem mudar de programação, escolhem assistir ao espetáculo. 

Fonte da imagem: http://www.apropucsp.org.br/
jornalpucviva/movimentos-sociais
Tem sido muito estafante viver nesse constante estado de alerta, e como numa zona de guerra, parece ser impossível encontrar um abrigo seguro em meio a tanta devastação. Mas esse texto, vem dizer a vocês que é possível: mude de assunto, leia um livro 'água com açúcar' e converse sobre ele, fale sobre música pop e comidas gordurosas. Mostre que você é um alienado convicto e que seus canais favoritos são SBT , Discovery H&H, E!...

Se você não tem vontade, você não precisa participar desse círculo... E viva a de-boas-cracia!