quarta-feira, 1 de julho de 2015

Aos menores o menor: espaço, direito, respeito...

A discussão a respeito da redução da maioridade penal tem tomado conta dos assuntos de cafézinho por aí, seja por meio de discussão proposta pelos meios de comunicação, seja através de conversas 'espontâneas' que surgem entre pessoas que se reunem.  O fato é que, ontem em sessão plenária na Câmara Federal, o texto que pretendia reduzir a maioridade para crimes hediondos não passou. Não sendo aquele o texto original, a discussão continuará em torno do assunto, já que agora a proposta é reduzir a maioridade para todos os crimes. 

Mas em meio a toda essa discussão, o que mais me chama a atenção nisso tudo é a capacidade que as pessoas têm tido de olhar o assunto como um problema induvidual e não social, as pessoas dizem que se a maioridade não for reduzida o sentimento de impunidade vai continuar... Mas meu Deus! A impunidade atinge muito mais aos maiores que os menores, e mais, a punidade atinge muito mais às camadas mais baixas da sociedade que as altas. 

Ninguém quer enxergar que só vai para a cadeia e nela fica, o coitado que não tem quem o defenda exclusivamente num tribunal. Aquele que pode pagar por um bom advogado continuará usando das brechas da lei para se manter longe das grades. Não será diferente para o filho dessa mesma gente que pode se defender. 

O menor infrator que comete grandes crimes é sim privado de sua liberdade e jogado em presídios, porque é isso que essas instituições de ressocialização são: ora mais humanas, ora menos, mas são prisão. E não deve haver nada mais desolador para um jovem cheio de energia, desejos e sonhos, que estar privado de sua liberdade. Sim, eles têm sonhos, embora saibam que a sociedade espera e trabalha para que seus sonhos se frustrem e que eles sejam só aquilo que a maioria dessa gente reacionária espera que eles sejam: menores infratores. 

O menor infrator é produto criado por essa sociedade de consumo, em que o pai não consegue mais explicar ao filho que é impossível  ganhar salário mínimo e equipar a casa e as pessoas da casa com todos os eletrônicos que há aí para serem adquiridos por todos. É fácil dizer que é falta de responsabilidade dos pais, que eles têm de educar seus filhos de acordo com sua realidade, mas as pessoas se esquecem de que vivemos numa nova época, na qual os estímulos pelo prazer imadiato são incessantes; criamos chocólatras, workaholics, shopaholics...  todos esses 'aholics' são desenvolvidos para manter viva a sociedade de consumo.

Fonte da Imagem: http://desacato.info/destaques/
estudantes-fazem-blitz-no-congresso-
contra-a-reducao-da-maioridade-penal/
 Há 15 anos atrás eu ainda compreendia o que era falta de dinheiro, porque fui ensinada a entender minha realidade, mas sobretudo porque não houve naquela época internet e televisão forte o bastante para contradizer a educação que recebi.

Dizer que o Estado erra por não prover uma educação suficientemente boa para que esses jovens sem perspectivas escolham o caminho mais digno é ser redundante, sim o Estado falha, mas falha também o pai que desobedece a orientação da professora de pré, que num bilhetinho solicita aos responsáveis para que não mandem seus filhos à escola com brinquedos fora do dia, muito menos com brinquedos caros. Essa gente que pode se mostrar para aqueles que têm menos, são os primeiros a condenar os menores pela cobiça, mas não fazem sua mea culpa pela vaidade. 

As pessoas se esquecem de que o mundo, da maneira que aí está, fora criado e que , ao contrário do que muitos pensam, não fora sempre assim. Somos gado, levados a seguir o caminho traçado pela cerca, e ensinamos a nossos menores que assim deve ser. Portanto, não  se deveria querer que o menor do outro, o menor pobre e sem condições sólidas para transformar sua história, deva ser punido por querer ter como os outros menores que se expoem por aí. 

É fácil dizer que cometer um crime é uma escolha, mas não há escolha quando as condições são únicas. É fácil esquecer a depressão que agride às pessoas justamente por não poderem ter o que lhes é oferecido o tempo todo, por não poder ser o que é lhes cobrado a todo tempo... Porque a depressão é uma doença de ricos incompreendidos; o pobre que trabalha, que fica desempregado e que recebe os mesmos estímulos que o rico incompreendido não tem direito de se deprimir, de se revoltar e de querer ter o que aparentemente todos têm... 

O menor pobre não tem direito... porque as leis que punem e impunem são sempre aplicadas às mesmas pessoas.


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